quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Dia da memória das vítimas do Holocausto

Comemora-se hoje a libertação, pelo exército vermelho, do campo de concentração e extermínio de Auschwitz.
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A turma do 12.º C da nossa escola deu-nos a lembrar, no seu projecto “Holocausto – lembrar para nunca esquecer”, o infeliz inesquecível Holocausto, essa tamanha desmesura em desvalor, em atrocidade e trágica maldade humana, que logo suscitou desiludida estupefacção na intelectualidade ocidental, como muito bem ilustra a conhecida afirmação do filósofo alemão Theodor Adorno – «depois de Auschwitz não há mais poesia». Com a exibição de um documentário, uma exposição soberba de fotografias, de imagens animadas em computador, pequenas instalações alusivas e projecções de imagens com banda sonora, estes alunos finalistas da nossa escola mostram o profundo significado de SABER, neste caso para alimentar a mente de um trágico, mas necessário, contraponto, do qual, todavia, não nos devemos esquecer na nossa constante busca do humano. Ecce homo (eis o Homem) – capaz de tudo e... do nada.
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Mas se formos capazes de verdadeiramente aprender com as lições da história, se aprendermos a profundamente pensar cada escarpa da condição humana, seremos capazes de, ainda assim, prosseguir… em busca de um mundo melhor.
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Sinceramente, parabéns – aos alunos, que crescem, e aos professores, que os elevam!
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(P.S.: Este projecto, juntamente com o não menos interessante e não só pedagógica, mas humanamente importante projecto "o holocausto na 1.ª pessoa", tiveram a atenção da comunicação social nacional, com uma reportagem na TVI24 e notícia no Portugal Diário/IOL.)

As melhores ondas

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1.
“Problematizar é perguntar acerca das razões que fazem com que aquilo que nos rodeia pareça ser de uma certa maneira, perguntar o que são realmente as coisas, por que são o que são, por que é que existem, etc.” (Alves, Arêdes, & Carvalho, 2009, p. 13)
A actividade filosófica assenta no acto de questionar o que os “comuns mortais” admitem como certo, o que aos olhos destes últimos se assemelha a algo que por vezes pode não possuir correspondência com a verdade. Verdade. A actividade filosófica é uma busca incansável e prevê-se interminável da verdade, não tomando como certa nenhuma solução, partindo de um ponto inicial, a raiz do problema, tentando responder a problemas da sua época histórica, procurando uma solução universal, tendo como único instrumento de trabalho o pensamento.
Os filósofos fazem uso de um pensamento mais correcto, abstraído de putativos influenciadores da sua acção, questionando com a sua mente numa nudez que a torne sensata para tentar encontrar as soluções para aquilo que contestam. No entanto estes possuem a consciência da dificuldade e impossibilidade de alcançar a verdade total no seu curto período de vida. À medida que progridem na sua actividade filosófica vão-se deparando com um aglomerado de dúvidas considerável que lhes dá uma visão diferente da vida e do mundo.
Abordando a ilustração deparamo-nos com algumas pessoas das quais algumas se localizam no rés-do-chão da dúvida, ou então “no rés-do-chão do pensamento”, e outras que se distribuem por diferentes níveis acima do solo, na infra-estrutura das dúvidas.
"Uma vida não examinada não merece ser vivida" Sócrates
Na minha opinião esta frase retrata a imagem, sendo os possuidores de uma vida que merece ver vivida aqueles que se encontram na tal infra-estrutura. Assim sendo, a imagem relaciona-se com a filosofia no aspecto que mostra ao que esta nos pode levar: a uma visão superior da vida e do mundo e a um permanente estado de dúvida.
Deste modo fino a minha opinião sobre esta “quaestio”.
(André Ferreira 10ºD nº3)

2.
Este desenho representa a construção de um ponto de interrogação.
A Filosofia é construída com base em constantes interrogações, mais especificamente a Filosofia procura a formulação correcta dos problemas filosóficos. São inúmeras as interrogações, desde a decisão de se tratar de um problema filosófico ou não, qual será a resposta a um problema, se a solução encontrada será a mais correcta, se as próprias objecções colocadas a uma teoria serão verdadeiras… A construção de “pontos de interrogação” originou a Filosofia.
No desenho, podemos ver que são pessoas que estão a construir o ponto de interrogação. Essas pessoas são os filósofos, aqueles que constroem a Filosofia. Nós, os seres humanos somos os únicos capazes de pensar, de questionar, ao contrário dos outros animais que não são capazes de o fazer. No desenho está também evidenciada a especificidade da acção humana.
No desenho ainda existem pessoas que estão fora da construção e parecem estar a observar a mesma. São pessoas que não concordam com a maneira como está a ser construído o ponto de interrogação e estão a discutir as razões pelas quais não concordam com isso. Essas pessoas são outros filósofos que encontraram “defeitos” na argumentação utilizada numa determinada teoria. Estão a colocar objecções nessa teoria. Alguns até propõem teorias diferentes par resolver os “defeitos” encontrados.
Podemos ainda observar que existe uma estrutura a suportar o ponto de interrogação, enquanto ele está ser construído. Como o ponto de interrogação representa as diferentes teorias filosóficas, a estrutura representa os argumentos utilizados para sustentar uma teoria. A aceitação de uma teoria como sendo verdadeira depende da qualidade da argumentação utilizada. Contudo, em Filosofia, não existe uma resposta completamente correcta, ao contrário das Ciências. Daí que a construção seja um ponto de interrogação pois, mesmo que exista uma boa estrutura de suporte, bons argumentos, não existe uma “verdade” irreversível. Existe sempre dúvida quando à veracidade da teoria.
Podemos ainda supor que a construção do ponto de interrogação nunca irá acabar porque a estrutura de suporte jamais poderá ser removida. Iremos sempre debater a veracidade das teorias filosóficas (ponto de interrogação) e iremos sempre necessitar de argumentos (estrutura de suporte) para sustentar as teorias.
Este desenho está intimamente relacionado com o que a Filosofia é.
(Ana Luísa Santos 10.ºA n.º5)

3.
A figura mostra-nos um grande ponto de interrogação com diversas pessoas à volta, cada uma com uma postura diferente face à questão. O que será que isto tem a ver com a filosofia? Então, como sabemos, na filosofia, pomos em causa tudo, até o que está dado como verdade inquestionável e cada um gira à volta dessas questões de uma maneira diferente, com uma perspectiva diferente e com uma solução diferente. Os "andaimes" (no meu ponto de vista) representam que é preciso bons argumentos e boas razões para justificar cada resposta nossa à questão em causa. Se repararmos, as pessoas estão em cima desses tais "andaimes", e se lhos tirássemos elas caíam, assim como se tirarmos os argumentos que defendem uma teoria, a um problema filosófico, a nossa teoria não é plausível e "cai". Por fim, quanto às pessoas, umas parecem-me apreensivas, outras pensativas e outras até cansadas, talvez de pensar, o que indica que na filosofia temos que ter paciência e tentar progredir sempre no nosso raciocínio para conseguirmos resolver os problemas e neste caso a Quaestio.
(DANIELA Nº8 10ºC)

sábado, 23 de janeiro de 2010

Filósofos na onda

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«Não há factos, apenas interpretações.»
(Nietzsche)


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«As questões sobre “valores” – isto é, sobre o que é bom ou mau em si, independentemente dos seus efeitos – estão fora do domínio da ciência (…), estão completamente fora do domínio do conhecimento. Por outras palavras, quando afirmamos que isto ou aquilo tem “valor”, estamos a exprimir as nossas emoções e não a indicar algo que seria verdadeiro mesmo que os nossos sentimentos pessoais fossem diferentes.
(…)
Quando um homem diz “isto é bom em si” parece estar a exprimir uma proposição, como se tivesse dito “isto é um quadrado” ou “isto é doce”. Julgo que isto é um erro. Penso que aquilo que o homem quer realmente dizer é “quero que toda a gente deseje isto”, ou melhor, “quem me dera que toda a gente desejasse isto”.
(…)
A teoria que estou a defender é uma forma daquela que é conhecida por doutrina da “subjectividade” dos valores. Esta doutrina [o emotivismo] consiste em sustentar que, se dois homens discordam quanto a valores, há uma diferença de gosto, mas não um desacordo quanto a qualquer espécie de verdade. Quando um homem diz “as ostras são boas” e outro diz “eu acho que são más”, reconhecemos que nada há para discutir. A teoria em questão sustenta que todas as divergências de valores são desse género, embora pensemos naturalmente que não o são quando estamos a lidar com questões que nos parecem mais importantes que a das ostras. A razão principal para adoptar esta perspectiva é a completa impossibilidade de encontrar quaisquer argumentos que provem que isto ou aquilo tem valor intrínseco. (…) Como não se pode sequer imaginar uma maneira de resolver uma divergência a respeito de valores, temos que chegar à conclusão que a divergência é apenas de gostos e não se dá ao nível de qualquer verdade objectiva.»

Bertrand Russell, “Ciência e Ética”, 1935, trad. Paula Mateus, §10-20.


«Os valores não existem, pelo menos da mesma forma que as pedras e os rios. Considerado à margem dos sentimentos e dos interesses humanos, o mundo parece não incluir quaisquer valores.

(…) As opiniões éticas não podem ser objectivamente verdadeiras ou falsas, porque não existe uma realidade moral a que possam corresponder ou não corresponder. (…) Podemos resumir o argumento desta forma:

1. Existem verdades objectivas na ciência, porque existe uma realidade objectiva – o mundo físico – que a ciência descreve.
2. Mas não existe qualquer realidade moral comparável à realidade do mundo físico. Não existe “lá fora” algo que a ética pode descrever.
3. Logo, não existem verdades objectivas na ética.

(…) É verdade, julgo eu, que não existe qualquer realidade moral comparável à realidade do mundo físico. Contudo, não se segue daqui que não possam existir verdades objectivas na ética. A ética pode ter uma base objectiva de outra forma.
Uma investigação pode ser objectiva de duas formas:

- Uma investigação pode ser objectiva, porque existe uma realidade independente que esta descreve correcta ou incorrectamente. A ciência é objectiva neste sentido.

- Uma investigação pode ser objectiva, porque existem métodos de raciocínio fiáveis que determinam a verdade e a falsidade no seu domínio. A matemática é objectiva neste sentido. Os resultados matemáticos são objectivos, porque são demonstráveis com os tipos relevantes de argumentos.

A ética é objectiva no segundo sentido. Não descobrimos que uma opinião ética é verdadeira comparando-a com uma espécie de “realidade moral”. (…) Descobrimos antes o que é certo ou o que se deve fazer examinando as razões ou os argumentos que, numa dada questão, podem ser avançados a favor de cada um dos lados – é certo aquilo que está apoiado pelas melhores razões para agir. Basta que possamos identificar e avaliar as razões a favor e contra os juízos éticos e que cheguemos a conclusões racionais.»
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James Rachels, Problemas de Filosofia, 2007, trad. Pedro Galvão.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010



Quaestio

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Que relação poderá ter este desenho com a Filosofia? Justifica.



Rir e pensar


Conta-se na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que um dia uma aluna do 3.º ano da Licenciatura de Filosofia, numa aula do Prof. Dr. Joaquim de Carvalho, eminente professor e filósofo português do séc. XX, tê-lo-á interpelado do seguinte modo:
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- O Sr. Doutor desculpe, mas eu ando aqui há já três anos e ainda não sei o que é, afinal, a Filosofia! O Sr. Doutor não se importava de me explicar…
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- Olhe, sabe, minha senhora, a senhora anda cá há 3 anos e ainda não sabe o que é a Filosofia; pois, eu ando cá há 30 anos e também ainda não sei muito bem o que é…!